sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Hipertensão Arterial

A Hipertensão Arterial (HTA) é uma das doenças com maior prevalência a nível mundial, estimando-se que nos próximos 15 anos a sua prevalência aumentará em 60% de novos casos de hipertensão. Actualmente, em Portugal a HTA tem uma prevalência de 43,7%. A grande importância desta patologia prende-se com o facto de a maior parte das doenças cardiovasculares (AVC, Síndromes Coronários Agudos, Insuficiência Cardíaca, Doença Arterial Periférica…) apresentarem um risco aumentado na presença da HTA.
 
Não é considerada uma doença única, mas sim uma síndrome com múltiplas causas. Na maior parte dos casos, esta causa mantém-se desconhecida e consideramos a HTA Essencial ou Primária (cerca de 90 a 95% dos casos); já a HTA Secundária (cerca de 5 a 10% dos casos) é baseada no conhecimento de uma causa primária, mas no fundo a separação dos termos é quase indistinta e artificial.
 
 
A Tensão/Pressão Arterial
 
É uma expressão que se refere à pressão que o sangue exerce sobre as paredes dos vasos sanguíneos, sendo que é igual ao produto do débito cardíaco (volume de sangue ejectado pelo coração no final da sístole) pela resistência periférica (dos vasos).
                        PA = DC x RP

Por sua vez, o débito cardíaco depende da frequência cardíaca (nº de batimentos do coração por minuto), do inotropismo (contractilidade do músculo cardíaco) e da volémia (volume de sangue existente no organismo).

 Classificação dos níveis de PA:
  • Óptima – Sistólica <120; Diastólica <80.
  • Normal - Sistólica 120-129; Diastólica 80-84.
  • Normal Alta – Sistólica 130-139; Diastólica 85-89.
  • HTA ligeira – Sistólica 140-159; Diastólica 90-99.
  • HTA moderada – Sistólica 160-179; Diastólica 100-109.
  • HTA grave – Sistólica >/=180; Diastólica >/= 110.
  • Hipertensão Sistólica Isolada – Sistólica >/=140; Diastólica <90.
 
Controlo da PA

Papel do Rim:

·         O rim é fundamental no controlo da PA. Quando ocorre um aumento da PA, a pressão hidrostática peritubular aumenta, e automaticamente a absorção do sódio é diminuída, havendo maior excreção de sódio na urina, que é acompanhada pela excreção de água. Isto implica a redução da volémia, levando à diminuição da PA.

·         No caso do hipertenso, existe um aumento da resistência vascular renal, o que leva a um aumento da fracção de filtração. Assim, aumenta a reabsorção de sódio e o aporte de proteínas ao rim encontra-se aumentado, o que leva ao aumento da pressão oncótica peritubular.

·         Com a hiperperfusão dos tecidos, o rim actua por auto-regulação exercendo uma vasoconstrição que origina um aumento da resistência periférica renal, com aumento da PA. Isto implica uma normalização da excreção de sódio e água para estabilização da volémia. Conclui-se então, que para o hipertenso conseguir a mesma excreção de sódio e água que um normotenso, são necessários valores tensionais mais elevados.

·         As unidades funcionais do rim são os nefrónios e, como todos os outros tecidos, estes ao longo do tempo também vão envelhecendo e perdendo a capacidade de filtração. Num hipertenso, esta perda ocorre muito mais precocemente, o que desencadeia um processo de hiperfiltração por parte dos restantes nefrónios. Desenvolve-se assim uma esclerose glomerular por disfunção endotelial (os níveis elevados de PA nos capilares renais provoca lesão no endotélio). Isto faz com que aumente a retenção de sódio e, consequentemente, de água, levando a um aumento da volémia, com consequente aumento da PA, tornando-se este processo num ciclo vicioso.

 Papel do Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona (SRAA)

·         Este é um sistema que faz a auto-regulação da PA, através da estabilização dos níveis da volémia. Quando existe uma diminuição da PA, o parênquima renal produz a Renina, que é uma pro-enzima  que cataliza a transformação do Angiotensinogénio (produzido no fígado) em Angiotensina I. Esta é transformada em Angiotensina II nos pulmões (em maior parte) pela Enzima Conversona da Angiotensina I (ECA) e no endotélio renal. A Angiotensina II, através da actuação em diferentes receptores, conduz a um aumento da actividade simpática do sistema nervoso (que leva a um aumento da FC e do inotropismo, tentando aumentar o débito cardíaco e assim a PA), aumenta a reabsorção de sódio e cloro, com consequente retenção de água, aumentado a volémia (processo levado a cabo pela libertação de Aldosterona pela glândula supra-renal), vasoconstrição arterial periféria, produção de Hormona Anti-Diurética (ADH, que permite a reabsorção de água a nível renal, e remodelação cardíaca das fibras musculares (permite um ligeiro aumento do inotropismo). Todos estes mecanismos levam a um aumento da PA.

·         Na HTA essencial, o SRAA encontra-se hiperactivo: retenção crónica de sódio e água, libertação crónica de aldosterona, hiperestimulação do Sistema Nervoso Simpático, hipertrofia cardíaca…

Papel do Síndrome Metabólico

·         Entidade patológica que envolve uma série de alterações a nível do perfil lipídico, glicémico e vascular do organismo. Está relacionado com obesidade, dislipidémia, insulino-resistência e alterações tensionais.

·         A insulina actua directamente nas artérias periféricas, causando a sua vasodilatação, enquanto que por outro lado existe a activação do S.N. Simpático, havendo um equilíbrio de efeitos. No caso da resistência à insulina, não se verifica este efeito vasodilatador, mas a activação do SNS permanece. Observa-se então uma hiperinsulinémia (com efeito anti-natriurético, ou seja, de retenção de sódio e de água, consequentemente), crescimento vascular, vasoconstrição e hiperglicemia/hiperlipidémia.

Papel do Endotélio Vascular

·         Na HTA há disfunção endotelial, por lesão directa, devido ao aumento da PA e da resistência vascular. Esta situação conduz à diminuição da produção de substâncias vasodilatadores como o Óxido Nítrico. Deste modo, há um predomínio das substâncias vasoconstritoras e promotoras da proliferação celular, levando à vasoconstrição e à hipertrofia vascular. Por outro lado, existe a libertação de radicais livres de oxigénio devido à lesão endotelial directa e ao aumento do stress oxidativo, o que aumenta os danos no endotélio.


Patofisiologia da HTA

            A HTA é definida generalizadamente como PA superior a 140/90 mmHg em adultos, detectada pelo menos em 3 visitas consecutivas ao médico.

A causa mais comum de HTA é a resistência arterial periférica aumentada, sendo que um aumento prolongado do débito cardíaco também pode ser causa (sendo que o aumento do volume sanguíneo, em indíviduos com excesso de mineralocorticóides ou insuficiência renal, pode contribuir para esta causa). O aumento da viscosidade do sangue, se for marcada, também pode aumenta a PA.

Clinicamente, a HTA em si mesma não é causadora de sintomas. Alguns sintomas gerais estão associados à HTA, mas não são específicos da doença, já que normotensos também os podem apresentar: cefaleias, cansaço, tonturas. Sendo assim, muitos dos casos de HTA são diagnosticados em consultas de rotina ou por desenvolvimento de complicações associadas com a HTA, como por exemplo o Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) que possui uma clínica específica. É por esta razão que a HTA é muitas vezes chamada de “doença silenciosa”.

Fisicamente, os achados clínicos estão ausentes na HTA recente, sendo que são muito mais observáveis nos casos avançados e mais graves. Dentro destes, inclui-se a nível do sistema ocular a Retinopatia Hipertensiva (arteríolas estreitas, observadas a fundoscopia) e o Papiledema (hemorragias e exsudados na retina, acompanhados do edema do nervo óptico); o débito cardíaco aumentado prolongado contra um aumento da resistência periférica pode levar a alterações cardíacas, vistas a partir do Electrocardiograma e do Ecocardiograma, que demonstram um alargamento das cavidades cardíacas, originando a Hipertrofia Ventricular , podendo originar ou exacerbar a Insuficiência Cardíaca (aguda – Edema Agudo do Pulmão; crónica – Insuf. Card. Congestiva), e pode desenvolver Disritmias (problemas na condução eléctrica do sistema cardionector); quando associada à Aterosclerose, pode haver desenvolvimento da patologia para outras complicações cardíacas como os Síndromes Coronários Agudos, nos quais se inclui o EAM, e vasculares como embolias e hemorragias que originam os AVC’s (Isquémicos e Hemorrágicos, respectivamente); outra complicação da HTA severa é a Encefalopatia Hipertensiva, que têm como sintomas a confusão, alterações da consciência e convulsões (estando associado a espasmos arteriolares cerebrais e a edema cerebral); o prolongamento de uma HTA não tratada pode originar problemas renais, considerando-se a Insuficiência Renal (a presença de microalbuminúria, 30 a 300mg na urina de 24h ou 20 a 200mg por litro de urina, é considerada um factor de risco cardiovascular importante).
  
Etiologia da HTA Secundária

            A HTA Secundária ocorre quando a subida dos valores tensionais tem uma origem num problema específico e potencialmente tratável.

            Deve-se suspeitar de HTA Secundária quando:

o   Apresenta início súbito;

o   Aparece em idades extremas (abaixo dos 30 e acima dos 50 anos);

o   Apresenta uma progressão acelerada;

o   Apresenta alterações retinianas vasculares;

o   Apresenta alterações artropáticas com esclerose ausente/insignificante.
  
Dividimos então a origem da HTA Secundária em:

·         Renal

o   Estenose da artéria renal

o   Glomerulonefrite

o   Nefropatia de refluxo

o   Doença Poliquística Renal

o   Pielonefrites crónicas

·         Cardiovascular

o   Coartação da Aorta

·         Endócrina

o   Hiperaldosteronismo

o   Feocromocitoma

o   Síndrome de Cushing

o   Hiperparatiroidismo

o   Síndrome Adrenérgico

o   Hiper/Hipotiroidismo

 
Deste modo, a apresentação clínica da HTA difere de acordo com a patologia de base, sendo que o tratamento da patologia leva ao desaparecimento da HTA.
 
 
 
Bibliografia: Harrison's Principles of Internal Medicine, 18th edition.
 
 

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