Como já foi constatado na publicação anterior, a Depressão não se manifesta da mesma forma em todos os indíviduos. Desta forma, a objectividade no processo de estabelecimento de um diagnóstico complica-se e torna-se quase necessário um regime de “tentativa” para conseguir adaptar, ao doente, um plano terapêutico mais personalizado. Assim sendo, torna-se necessária a análise de inúmeros factores que tentam indicar o melhor caminho para a elaboração do plano terapêutico do doente.
A terapêutica anti-depressiva tem a sua base em vários grupos de fármacos, conforme o tipo de depressão com a qual se esteja a lidar ou conforme o tipo de sintomas que se queiram contrariar. Deste modo, podemos enunciar vários grupos como:
a. Os anti-psicóticos;
b. Hipnóticos;
c. Outros medicamentos com acção sobre perturbações afectivas.
As Perturbações Afectivas (que incluem a Doença Bipolar, a Depressão Major e as Depressões Reactivas – resultantes das condições de vida de cada um) representam o grande grupo responsável pela maior parte daquilo que é vulgarmente caracterizado como Depressão.
Numa tentativa de melhorar a qualidade de vida dos doentes e tentar reverter a situação de depressão, existem várias classes de fármacos com acção distinta, destacando-se:
a. Antidepressivos (que incluem os fármacos Tricíclicos, Heterocíclicos, Inibidores da Monoamina Oxidase (IMAO) e ainda
os SSRI (sigla inglesa para Inibidores Selectivos da Recaptação da Serotonina));
b. Anti-maníacos (Lítio).
No entanto, tendo em conta que, normalmente, a depressão tem sempre outros problemas associados, nomeadamente distúrbios de sono ou psicoses associadas, é frequente a administração concomitante de outras classes de fármacos como:
a. Anti-psicóticos;
b. Hipnóticos (dos quais se destacam as Benzodiazepinas, os Barbitúricos, os Anti-histamínicos e, ainda, os fármacos sedativo-hipnóticos).
Fármacos Tricíclicos e Heterocíclicos
Estes fármacos apenas diferem na sua estrutura química, sendo os fármacos heterocíclicos agrupados em fármacos de 2ª ou 3ª geração. Constituem, portanto, uma melhoria a nível terapêutico relativamente aos fármacos tricíclicos.
Os fármacos tri
cíclicos e os heterocíclicos de 2ª geração actuam, essencialmente, através do bloqueio da recaptação de noradrenalina e serotonina, aumentando assim os níveis de neurotransmissores junto aos receptores. Já os heterocíclicos de 3ª geração apresentam uma actividade antagonista dos receptores de serotonina 5-HT2A ou 5-HT2C. Estudos comprovam que doentes suicidas têm um número maior destes receptores no córtex frontal e que também têm um papel de destaque nos sintomas negativos da esquizofrenia, sendo por este motivo que os heterocíclicos de 3ª geração deverão ser os fármacos eleitos para distúrbios deste tipo, pois além de terem uma maior eficácia, são os que produzem menos efeitos adversos.
Como exemplos podemos destacar a Amitriptilina e a Imipramina como fármacos tricíclicos, a Amoxapina e a Trazodona como heterocíclicos de 2ª geração e a Mirtazepina, a Nefazodona e a Venfalaxina como heterocíclicos de 3ª geração.
Os fármacos tricíclicos, por serem os menos “desenvolvidos” no contexto terapêutico actual, são aqueles que podem induzir maior número de efeitos adversos, dos quais se podem destacar sonolência, obstipação, arritmias, aumento de peso, entre outros.
Inibidores da Monoamina Oxidase (IMAO)
Estes fármacos actuam pela inibição (reversível ou irreversível) de uma enzima responsável pela degradação de noradrenalina e serotonina nas terminações nervosas. Assim, produz-se um aumento dos níveis de neurotransmissores nas vesículas pré-sinápticas. Existem dois tipos de enzimas (MAO-A e MAO-B) para os quais os fármacos não são selectivos.
Quimicamente, estes fármacos dividem-se em hidrazidas, que têm uma acção irreversível, como a Fenelzina e a Isocarboxazida; e em não-hidrazidas, que têm uma acção não irreversível, mas prolongada, como é o caso da Tranilcipromina.
Como efeitos adversos, os IMAO podem induzir hipotensão postural, secura da boca, enxaquecas e aumento de peso.
Inibidores selectivos da Recaptação da Serotonina
Estes fármacos, como a Fluoxetina, a Paroxetina e a Sertralina têm a capacidade de in
ibir a recaptação da Serotonina pelos neurónios, fazendo aumentar os níveis deste neurotransmissor nas fendas sinápticas, disponibilizando uma maior quantidade de serotonina para ligação aos seus receptores, de forma a compensar o défice de serotonina que causam alguns dos sintomas da depressão. Apresentam a particularidade de terem baixa actividade sobre o Sistema Nervoso Autónomo.
Relativamente a efeitos adversos, podem induzir ansiedade, insónias, erupções cutâneas, redução da líbido e disfunção sexual.
Anti-maníacos: Lítio
O Lítio será, provavelmente, o fármaco mais usado em casos de depressão grave, sendo activo, especialmente, na fase maníaca da depressão. Actua por redução dos níveis de PIP2 (fosfatidilinositol bifosfatado) nas terminações nervosas, influenciando o metabolismo celular através da modificação dos fluxos de cálcio entre os vários compartimentos, modificando os potenciais de membrana e, consequentemente, a transmissão dos sinais eléctricos essenciais ao funcionamento do sistema nervoso.
Por ser um fármaco com baixo índice terapêutico, torna-se necessário um forte controlo, que pode incluir análises regulares para determinar os seus níveis séricos.
Pode induzir tremor, náuseas, vómitos, confusão, convulsões e insuficiência renal, conforme as concentrações presentes no organismo. Apresenta ainda a desvantagem de ser fetotóxico.
Anti-psicóticos/Hipnóticos
Estes fármacos são vulgarmente administrados de forma concomitante com antidepressivos, de forma a inverter alguns dos sintomas comuns nos vários tipos de depressão, especialmente os distúrbios de sono ou psicoses que possam, inclusivamente, estar na origem da depressão. Assim sendo, como se trata de um assunto mais complexo, deverá ser abordado em publicações futuras, de forma mais pormenorizada e com uma melhor adequação ao contexto em que são utilizados este tipo de fármacos.
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